Foto: Katarzyna Górka
“É como se nos obrigaram a sair, não foi a nossa vontade de vir para cá. Simplesmente não tivemos outra opção. A situação era tão crítica que já não podíamos viver lá” - Ruth
por Katarzyna Górka
Ruth tem 31 anos. É empreendedora e trabalhadora, nem muito alegre, mas também não muito pessimista, se considera uma pessoa normal. Ela chegou em Boa Vista em fevereiro de 2018 com seu filho Tomás. Ruth era estudante de administração de empresas, mas quando ficou grávida do Tomás deixou a Universidade e abriu um pequeno comércio. Seu marido trabalhava como policial municipal. Na visão da Ruth, ela e sua família tinham uma vida boa na Venezuela, duas casas, um carro, uma moto... Até que veio a crise e tudo se desmoronou. O salário já não dava para nada. Tiveram que vender a moto, uma casa, assim como os móveis e eletrodomésticos da outra, onde moravam, para sobreviverem e também poderem pagar a viagem ao Brasil, o qual não havia sido a primeira escolha deles.
Ruth está grávida de sete meses de um segundo filho. Ou filha. Ela ainda não sabe. “Às Venezuelanas não fazemos a eco” lhe disseram num hospital de Boa Vista, assim, rudemente. No começo planejavam emigrar a Trinidade e Tobago. Mas com a segunda gravidez e uma situação financeira consideravelmente deteriorada, optaram pelo Brasil, por ser mais próximo e a viagem mais barata. A ideia era conseguir trabalho em Boa Vista para reestruturarem suas vidas, juntar dinheiro para poderem viver dignamente na Venezuela.
No começo seu marido conseguiu alguns trabalhos esporádicos na capital de Roraima, mas agora, comenta, é muito difícil encontrar trabalho na cidade. Mesmo com a gestação as pessoas em boa Vista não lhe poupam comentários xenofóbicos e até mesmo xingamentos como “puta” e “vagabunda”, simplesmente por ser venezuelana. Ainda assim ela tem orgulho de sua nacionalidade.
Mesmo com essas experiências negativas, Ruth acha que os brasileiros têm bom coração e são muito humanitários. Ela admira a educação brasileira, “aqui as crianças tem o futuro melhor”, nos disse. Ruth tem esperança de poder mudar-se a outra cidade, com menos Venezuelanos e menos discriminação, mas também não muito longe de Boa Vista. Ela ainda tem esperança e deseja conseguir retornar à Venezuela e recuperar a qualidade de vida da sua família.